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sábado, 12 de março de 2011

Crianças em disputa: o ataque do capital (II)


As empresas gigantes do cultivo da cana têm assumido a educação formal na região centro-sul do país
09/03/2011

Roberta Traspadini

1.O Projeto Agora: a educação formal a serviço do capital
Neste texto trataremos como as empresas gigantes do cultivo da cana têm assumido a educação formal na região centro-sul do país, que concentra praticamente 90% de toda produção canavieira do Brasil.
Cem municípios da região centro sul, espalhados por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, encubam o processo de educação formal denominado Projeto Agora.
Este projeto dirigido para a educação formal de educandos da 7ª. e 8ª. series, com idade entre 12 a 15 anos, é uma parceria público-privada entre instituições governamentais, alguns sindicatos e o grande capital. Itaú, Monsanto, Basf, Dedine, CEISI, Amyris, BP, FMC e SEW Eurodrive, são as empresas centrais do processo.

2.Quais as concepções manifestas no kit educativo?
O documento nos mostra cinco concepções dirigidas à formação da futura geração de trabalhadores:
1.Desenvolvimento e progresso. Evidenciada pelo aparente rico histórico da monocultura e do latifúndio no Brasil que não é, no documento, avesso à diversidade produtiva.
2.Inclusão social com dignidade. Traz a idéia de jovem empreendedor associado ao trabalho técnico na indústria da cana, que não relata a particularidade histórica do trabalho escravo e da superexploração deste cultivo em tempos atuais.
3.História reduzida à vitória do capital. Neste ponto não aparecem as lutas ocorridas nos territórios, as disputas reais vividas pelos diversos sujeitos sociais, e a produção de processos políticos antagônicos sobre a apropriação do trabalho.
4.Terra e riqueza associada ao progresso. Processo que não questiona nem o tamanho da propriedade, nem o uso da terra, e principalmente, não relata as contradições na forma e no conteúdo da utilização dos recursos, e do trabalho.
5. Educação adestradora. Uma validação da lógica dominante voltada para os grandes projetos, para a incorporação de um ser pertencente à vantagem competitiva do grande capital, ou um ser excluído desta possibilidade.

3. O que está por trás da leitura?
O kit educativo é uma cartilha de agitação e propaganda da indústria canavieira. Faz um superficial recorrido histórico sobre o cultivo da cana até o Brasil colonial, onde não são manifestas lutas, disputas, contestações à imposição do poder.
As concepções de colônia de exploração e de plantation manifestas na cartilha não evidenciam o trabalho escravo, o monocultivo e o latifúndio como mola propulsora do processo de desenvolvimento brasileiro, em que expropriação e exploração constituem as raízes ilícitas do enriquecimento do capital no território.
Na superficialidade demonstra sua capacidade destruidora da educação e da história nos sonhos concretos dos jovens sujeitos.
Da debilidade histórica o texto passa para os dados – IBGE -atuais sobre a posição do Brasil no ranking mundial da produção de cana, como se isto fosse fruto de uma relação de igualdade entre trabalhadores e capitalistas.
Mostra que o Brasil é o primeiro produtor de cana do mundo com 645 milhões de toneladas produzidas em 2008. Mas não diz o que isto significa na prática dos territórios e das vidas produtoras da riqueza expropriada pelo capital.
Salta aos olhos que o documento é mais do que agitação e propaganda. É um processo complexo e diversificado de formação ideológica através da educação formal.
É um processo de construção da intencionalidade “educativa” do capital. Formação para a consolidação de um exército industrial de reservas consciente de sua necessidade de inclusão dentro da ordem.
É um processo de construção da educação formal para a manutenção da ordem e do progresso burgueses, que não admite outro conceito que não o da benevolência do capital na vida dos sujeitos, na produção da Pátria, na construção da era global.
É um processo de construção ético-moral burguês que oculta o real. Em sua aparente máscara de inclusão, prosperidade, modernização, encobre a história da opressão-exploração-dominação.
O que no kit educativo aparece como dado, para nós trabalhadores deve ser entendido como questões que nos permitam revelar o que está oculto no ponto de vista colocado.

4. Quais são as grandes questões a serem recuperadas?
a. A questão da terra: segundo o documento, a produção de cana abarca mais ou menos 8 milhões de hectares de terra no Brasil, o que significa somente 2,5% das terras agricultáveis.
Esqueceram de dizer que nos estados em que está a maior concentração, a porcentagem de terras é gigantesca e nos demais, resta saber quem são os donos das sementes, das propriedades, da compra direto da produção dos pequenos produtores rurais.
b. A questão do trabalho e da produtividade: destaca a importância das máquinas colheitadeiras. Mostra não só o aumento da produtividade do trabalho como a possibilidade de ampliação dos números de participação do setor no PIB nacional. Mostra que a produtividade homem/dia saiu de 6 a 10 toneladas na colheita manual, para 500 a 800 toneladas com a colheita mecânica.
Esqueceram de relatar a real condição vivida dos migrantes da cana no Brasil, em busca de uma oportunidade. Aqui temos dois problemas em um. A continuidade do trabalho escravo, e o desemprego estrutural fruto da mecanização. O monocultivo e o latifúndio se apresentam, ao longo da história, como péssimos exemplos de desenvolvimento e inclusão social.
c. A questão da “oportunidade e do desenvolvimento”: trabalha a noção de desenvolvimento como sinônimo de mecanização do campo. A cana é, para eles, o principal motor econômico, político e cultural colocado em movimento nas relações sociais da região. Segundo seus ideólogos, também permite um modelo de desenvolvimento para as cidades com projetos sociais, educativos, culturais e com o progresso da rede de serviços que gera uma economia com gigantesco potencial de crescimento.
Esqueceram de dizer que outro mundo é possível para além do cultivo da cana nestas regiões, a partir da revisão concreta: da intervenção de Estado; da lógica de produção; do conceito de vida.
O que está colocado no projeto de educação das grandes empresas é uma gigantesca máquina do terror em que a produção material da vida aparece invertida e os olhos já não mais devem conseguir visualizar as contradições cotidianas.
Na disputa contra o grande capital, necessitamos retomar o debate, a disputa e a proposição política concreta sobre as seguintes questões: da luta de classes na atualidade; do Estado e da sociedade; agrária e ambiental; do trabalho; do desenvolvimento; e da concepção de vida.
Ou denunciamos estas ilegalidades e anunciamos nosso projeto de classe, ou o futuro que já começou faz alguns séculos no nosso continente, continuará distante de nos pertencer como classe.

Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da CP/ES.

Crianças em disputa: o ataque do capital (II)


As empresas gigantes do cultivo da cana têm assumido a educação formal na região centro-sul do país
09/03/2011

Roberta Traspadini

1.O Projeto Agora: a educação formal a serviço do capital
Neste texto trataremos como as empresas gigantes do cultivo da cana têm assumido a educação formal na região centro-sul do país, que concentra praticamente 90% de toda produção canavieira do Brasil.
Cem municípios da região centro sul, espalhados por São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, encubam o processo de educação formal denominado Projeto Agora.
Este projeto dirigido para a educação formal de educandos da 7ª. e 8ª. series, com idade entre 12 a 15 anos, é uma parceria público-privada entre instituições governamentais, alguns sindicatos e o grande capital. Itaú, Monsanto, Basf, Dedine, CEISI, Amyris, BP, FMC e SEW Eurodrive, são as empresas centrais do processo.

2.Quais as concepções manifestas no kit educativo?
O documento nos mostra cinco concepções dirigidas à formação da futura geração de trabalhadores:
1.Desenvolvimento e progresso. Evidenciada pelo aparente rico histórico da monocultura e do latifúndio no Brasil que não é, no documento, avesso à diversidade produtiva.
2.Inclusão social com dignidade. Traz a idéia de jovem empreendedor associado ao trabalho técnico na indústria da cana, que não relata a particularidade histórica do trabalho escravo e da superexploração deste cultivo em tempos atuais.
3.História reduzida à vitória do capital. Neste ponto não aparecem as lutas ocorridas nos territórios, as disputas reais vividas pelos diversos sujeitos sociais, e a produção de processos políticos antagônicos sobre a apropriação do trabalho.
4.Terra e riqueza associada ao progresso. Processo que não questiona nem o tamanho da propriedade, nem o uso da terra, e principalmente, não relata as contradições na forma e no conteúdo da utilização dos recursos, e do trabalho.
5. Educação adestradora. Uma validação da lógica dominante voltada para os grandes projetos, para a incorporação de um ser pertencente à vantagem competitiva do grande capital, ou um ser excluído desta possibilidade.

3. O que está por trás da leitura?
O kit educativo é uma cartilha de agitação e propaganda da indústria canavieira. Faz um superficial recorrido histórico sobre o cultivo da cana até o Brasil colonial, onde não são manifestas lutas, disputas, contestações à imposição do poder.
As concepções de colônia de exploração e de plantation manifestas na cartilha não evidenciam o trabalho escravo, o monocultivo e o latifúndio como mola propulsora do processo de desenvolvimento brasileiro, em que expropriação e exploração constituem as raízes ilícitas do enriquecimento do capital no território.
Na superficialidade demonstra sua capacidade destruidora da educação e da história nos sonhos concretos dos jovens sujeitos.
Da debilidade histórica o texto passa para os dados – IBGE -atuais sobre a posição do Brasil no ranking mundial da produção de cana, como se isto fosse fruto de uma relação de igualdade entre trabalhadores e capitalistas.
Mostra que o Brasil é o primeiro produtor de cana do mundo com 645 milhões de toneladas produzidas em 2008. Mas não diz o que isto significa na prática dos territórios e das vidas produtoras da riqueza expropriada pelo capital.
Salta aos olhos que o documento é mais do que agitação e propaganda. É um processo complexo e diversificado de formação ideológica através da educação formal.
É um processo de construção da intencionalidade “educativa” do capital. Formação para a consolidação de um exército industrial de reservas consciente de sua necessidade de inclusão dentro da ordem.
É um processo de construção da educação formal para a manutenção da ordem e do progresso burgueses, que não admite outro conceito que não o da benevolência do capital na vida dos sujeitos, na produção da Pátria, na construção da era global.
É um processo de construção ético-moral burguês que oculta o real. Em sua aparente máscara de inclusão, prosperidade, modernização, encobre a história da opressão-exploração-dominação.
O que no kit educativo aparece como dado, para nós trabalhadores deve ser entendido como questões que nos permitam revelar o que está oculto no ponto de vista colocado.

4. Quais são as grandes questões a serem recuperadas?
a. A questão da terra: segundo o documento, a produção de cana abarca mais ou menos 8 milhões de hectares de terra no Brasil, o que significa somente 2,5% das terras agricultáveis.
Esqueceram de dizer que nos estados em que está a maior concentração, a porcentagem de terras é gigantesca e nos demais, resta saber quem são os donos das sementes, das propriedades, da compra direto da produção dos pequenos produtores rurais.
b. A questão do trabalho e da produtividade: destaca a importância das máquinas colheitadeiras. Mostra não só o aumento da produtividade do trabalho como a possibilidade de ampliação dos números de participação do setor no PIB nacional. Mostra que a produtividade homem/dia saiu de 6 a 10 toneladas na colheita manual, para 500 a 800 toneladas com a colheita mecânica.
Esqueceram de relatar a real condição vivida dos migrantes da cana no Brasil, em busca de uma oportunidade. Aqui temos dois problemas em um. A continuidade do trabalho escravo, e o desemprego estrutural fruto da mecanização. O monocultivo e o latifúndio se apresentam, ao longo da história, como péssimos exemplos de desenvolvimento e inclusão social.
c. A questão da “oportunidade e do desenvolvimento”: trabalha a noção de desenvolvimento como sinônimo de mecanização do campo. A cana é, para eles, o principal motor econômico, político e cultural colocado em movimento nas relações sociais da região. Segundo seus ideólogos, também permite um modelo de desenvolvimento para as cidades com projetos sociais, educativos, culturais e com o progresso da rede de serviços que gera uma economia com gigantesco potencial de crescimento.
Esqueceram de dizer que outro mundo é possível para além do cultivo da cana nestas regiões, a partir da revisão concreta: da intervenção de Estado; da lógica de produção; do conceito de vida.
O que está colocado no projeto de educação das grandes empresas é uma gigantesca máquina do terror em que a produção material da vida aparece invertida e os olhos já não mais devem conseguir visualizar as contradições cotidianas.
Na disputa contra o grande capital, necessitamos retomar o debate, a disputa e a proposição política concreta sobre as seguintes questões: da luta de classes na atualidade; do Estado e da sociedade; agrária e ambiental; do trabalho; do desenvolvimento; e da concepção de vida.
Ou denunciamos estas ilegalidades e anunciamos nosso projeto de classe, ou o futuro que já começou faz alguns séculos no nosso continente, continuará distante de nos pertencer como classe.

Roberta Traspadini é economista, educadora popular e integrante da CP/ES.

quinta-feira, 10 de março de 2011

MOVIMENTO ESTUDANTIL DE ÁREA

Compreende especificamente a instância máxima de representação
dos estudantes de um determinado curso, organizado através das
executivas e federações de curso, no caso do MESS, trata-se da
Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESSO.

Breve histórico da ENESSO
Em 2008 a ENESSO completa 20 anos. Durante a história do MESS, a
ENESSO se denominou de várias formas. Antes de ser fechada pela
ditadura militar em 1968, era chamada de ENESS. Após a reorganização
passou a ser a Secretária Executiva Nacional até 1988, quando torna-se
SESSUNE (Subsecretária de Estudantes de Serviço Social da UNE).
mais tarde, em 1993, rebatizada de ENESSO (Executiva Nacional de
Estudantes de Serviço Social).

Objetivos da ENESSO
1). lutar por uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade, visando
ampliar o acesso ao direito à educação;
2). articular os estudantes de Serviço Social no país, viabilizando canais
para maior participação destes junto aos movimentos populares,
reforçando e ampliando a sua luta por uma sociedade justa e
igualitária;
3). fomentar e potencializar a formação político-profissional dos
estudantes de Serviço Social através de suas entidades
representativas de base (CA’s/DA’s), objetivando fortalecer a
intervenção política do Movimento Estudantil de Serviço Social -
MESS;
4). coordenar e organizar os encontros regionais e nacionais junto às
escolas sede e representação discente em ABEPSS, buscando a
articulação com as demais entidades da categoria;
5). garantir um contato permanente dos estudantes de Serviço Social
com a categoria dos Assistentes Sociais, suas entidades nacionais;
6). promover o fortalecimento político, organizacional das entidades de
base (CA’s e DA’s) e apoiar sua construção e organização onde não
existam;
3) promover e participar do debate acerca das demandas das(os)
estudantes de Serviço Social;
4) consolidar o contato com as demais executivas de curso a fim de
reforçar o papel destas no movimento estudantil e construir novas
alternativas de luta para o movimento;

sexta-feira, 4 de março de 2011

DH e Educação Popular

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
MESTRADO EM DIREITO
SEMINÁRIO DE PESQUISA I
CURSO:
DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO POPULAR: POR UM DIREITO A PARTIR DOS DE BAIXO
Prof. Romero Venancio (UFS/ENFF-MST) e Grupo de Pesquisa em Direito e Marxismo da UFPB

CONTEÚDO:
I. Educação popular: história e teoria
II. Um debate atual em educação popular: posição de Alder Julio e Roberto Leher
III. Direitos humanos: da leitura clássica/Liberal à leitura a partir dos de baixo
IV. Direitos humanos, direitos dos pobres: problematizando experiências

TEXTOS DO CURSO:
*Reproblematizando o(s) conceito(s) de Educação popular. Alder Julio
*Educação popular como estratégia política. Roberto Leher
*O triunfo da humanidade: de 1789 a 1989. Dos direitos naturais aos direitos humanos. Costas Douzinos

*Os pobres na América Latina. Leonardo Boff

*Reflexões sobre o direito do pobres à igualdade. Joaquim Undurraga


DATA: 28 de março a 01 de abril de 2011.
HORA: 14-17h.
LOCAL: Sala 12 do CCJ/UFPB

*Aberto a ouvintes, militantes, discordantes e por ai vai!

quinta-feira, 3 de março de 2011

1º SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE INFÂNCIA, JUVENTUDE E POLÍTICAS PÚBLICAS

1º SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE INFÂNCIA, JUVENTUDE E POLÍTICAS PÚBLICAS: desafios na articulação entre teoria e prática

http://www.youtube.com/watch?v=z45mJOT9KxU